Atualizado 9h00 6/ago/25.
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8.5 Livre-Arbítrio do Homem Natural? Livre-arbítrio e Apostasia
Essa é uma seção irmã à “Consequências da Queda e Depravação
Total”, na Doutrina do Pecado, a próxima doutrina do livro. Aos arminianos que creem
que o homem nasce com livre-arbítrio (natural), habilidade de crer, fazer o bem
contra sua natureza, à parte da regeneração do Espírito Santo, Armínio se
expõe:
Esta é minha opinião a respeito do livre-arbítrio do homem: Em sua condição primitiva, tendo vindo das mãos do Criador, o homem foi dotado com uma porção de conhecimento, santidade e poder, para capacitá-lo a entender, estimar, considerar, desejar e fazer o bem, de acordo com o que lhe foi dado como missão. No entanto, ele não podia realizar nenhum desses atos, exceto com o auxílio da graça divina. Mas em seu estado de descuido e pecado, o homem não é capaz de pensar, nem querer, ou fazer, por si mesmo, o que é realmente bom; pois é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições e desejos, e em todos seus poderes, por Deus, em Cristo, por intermédio do Santo Espírito, para que possa ser corretamente qualificado para entender, estimar, considerar, desejar e fazer aquilo que realmente seja bom. Quando ele é feito participante dessa regeneração ou renovação, considero que, estando liberto do pecado, ele é capaz de pensar, de querer e fazer aquilo que é bom, mas ainda não sem a ajuda continuada da graça divina. (Armínio, Obras de Armínio, CPAD, 2015). Encontra-se no Volume I, Declaração de Sentimentos, pág. 284-285.
Pode-se entender, claramente, que antes de ser regenerado e
renovado – não acredito de maneira alguma que o homem nasça já regenerado/renovado
pela graça (mas creio que é através do contato com a Palavra) – o homem não é
capaz de nada que é realmente bom para Deus de si mesmo. Portanto, não possui de
maneira nenhuma livre-arbítrio, mas apenas age de acordo com sua natureza
pecaminosa.
De acordo com Collins, Kenneth (2010), Wesley também
expressou que o homem natural não nasce com livre-arbítrio referente à salvação
[ou seja, o homem natural não é capaz de fazer o verdadeiro bem diante de Deus,
crer em Cristo para sua salvação, e assim por diante, pois todas essas coisas
são fruto da graça de Deus, e não de alguma capacidade humana]:
É óbvio que Wesley, por ensinar uma doutrina do pecado original, em muitos aspectos, semelhante à dos reformistas protestantes, nega que os seres humanos possuam livre-arbítrio natural. Jackson, Wesley’s Works, p. 10:229 apud Collins, Kenneth (Teologia de John Wesley, CPAD, 2010).
A Igreja Luterana concorda com Agostinho no seu livro III
do Hypognosticon, que todos os homens possuem livre-arbítrio às coisas seculares:
Confessamos que em todos os homens há um livre-arbítrio, pois todos têm
entendimento e razão naturais, inatos. Não no sentido de que sejam capazes
de algo no que concerne a Deus, como, por exemplo, amar e temer
a Deus de coração (Livro de Concórdia, 2016). Nesse sentido,
é claro que o homem nasce com livre-arbítrio (habilidade de escolha) etc. O que
enfatizo é que o homem não nasce com habilidade de escolha às coisas
espirituais.
Antes de ser renovado pela graça preveniente o homem é como
tronco e pedra:
Por isso, a Escritura Sagrada compara o coração do homem irregenerado com pedra dura, que não cede a quem toca, mas resiste, e com bloco rude e fera indomável. Não que o homem, depois da queda, já não seja criatura racional, ou que seja convertido a Deus, sem ouvir e meditar a palavra de Deus, ou que, em coisas externas, seculares, nada de bom ou de mau possa entender ou, livremente, fazer ou deixar de fazer. Pois, como diz o Dr. Lutero no comentário sobre o Sl 91: “Em coisas seculares e externas, no que tange à alimentação e às necessidades do corpo, o homem é sagaz, inteligente e muito ativo. Mas em coisas espirituais e divinas, que dizem respeito à salvação da alma, é como coluna de sal, como a mulher de Ló, sim, qual tronco e pedra [...]”. Livro de Concórdia, 2016.
Lutero, em Nascido Escravo (2007), traz diversos pontos
esclarecedores ao manejar bem a Palavra de Deus, que concordam que o homem
natural não possui nem nasce com livre-arbítrio (capacidade de crer, fazer o
bem etc.), mas, como o nome do seu livro diz, possui um servo arbítrio: De
Servo Arbítrio, A Escravidão da Vontade. Anos mais tarde de escrever esse
parágrafo um teólogo luterano me disse que Nascido Escravo não foi escrito por
Lutero, mas por um pastor batista chamado Clifford Pond que, condensando as
obras de Lutero, deu uma cara de calvinista à teologia do livro. Portanto, vale
ler obras como o Livro de Concórdia (2016), escrito em parte por Felipe
Melâncton, discípulo de Lutero, para ver que a igreja Luterana, seguindo o seu
fundador, Lutero, sempre afirmou que o homem natural não possui nem nasce com
livre-arbítrio.
[parágrafos abaixo alterados 9h00 6/ago/25]
Em geral, o homem é capaz de fazer apenas o que a sua natureza permite. Assim, o homem natural, que não tem livre-arbítrio, não pratica o verdadeiro bem pois só possui a natureza pecaminosa (carne), sendo escravo do pecado. E o “homem” glorificado na glória dos Céus (assim como os anjos eleitos), que não terá livre-arbítrio também para pecar, não pecará pois não possuirá mais a natureza terrena pecaminosa (carne), mas será a verdadeira imagem e semelhança de Deus, o qual não somos ainda. O salvo, o homem nascido de novo, é servo de Deus e da Sua justiça, comprado pelo Filho, e tem a tendência de praticar o bem pela graça do Espírito Santo, pois tem a natureza de Cristo que supera a pecaminosa, e a incapacidade de permanecer continuamente no pecado segundo as Escrituras (seção 10.6 Perseverança dos Santos). Já o homem renovado (iluminado e com temor a Deus) no seu estado pré-conversão, com seu livre-arbítrio restaurado – que ainda assim é limitado, pois o homem não pode parar de pecar – ainda faz o mal (ainda não é capaz de realizar obras de justiça) – ver citação de Armínio na seção 10.3.1 O Processo de Conversão e a Graça Preveniente. Esse homem renovado – mas não regenerado (convencido, mas não convertido) – não faz o bem ainda pois não é nascido de novo (raciocínio aprimorado no próximo parágrafo), todavia, deseja o bem com o entendimento – busca a salvação e deseja o bem (Rm 7). Ele está perto de ser justificado segundo John Wesley. Quando Deus o salvar, será um vaso de honra para fazer o bem pela graça do Espírito Santo.
Unindo algumas seções sobre livre-arbítrio (esta (8.5),
10.3.1, 10.3.2, 13.1, 13.6), e complementando (em 2025), falemos de
livre-arbítrio e apostasia. Todos temos livre-arbítrio, capacidade de escolha
às coisas naturais (música, arte, ciência etc.), e nascem com isso. Já
livre-arbítrio / arbítrio “livre” (bem limitado, na verdade) às coisas espirituais
é Deus quem renova pela graça preveniente ao contato com o evangelho, o que
pode ser perdido pela apostasia (ex. a pessoa voltar à depravação total). Voltando
ao assunto, livre-arbítrio é a capacidade de fazer coisas que sua natureza não
permite: 1. A natureza
do descrente não o permite fazer o bem, exceto pela Graça e pelo livre-arbítrio [*sobre isso
escrevi uma observação também no próximo parágrafo, para ninguém interpretar
errado] pois esse descrente não tem a natureza de Cristo; 2. A natureza pura de anjos no Céu após a criação
e de Adão e Eva no Paraíso não os permitiam pecar, exceto pelo bom livre-arbítrio se rejeitassem
o Senhor, pois não tinham
a natureza pecaminosa.
Falando de um crente que está
no processo de conversão, a fé e o livre-arbítrio são meios para a salvação,
não fins em si mesmos (melhor explicado no cap. 10), mas o livre-arbítrio é
limitado, visto que ninguém pode parar de pecar nesta terra. Já o salvo, como
já possui a natureza de Cristo pelo Espírito Santo e também a pecaminosa, ele
possui, na realidade, livre agência, pois é um agente livre, um ser livre, que
faz o que a sua natureza permite: quando faz o bem é pelo Espírito, e quando
faz o mal é pela própria carne ou natureza humana pecaminosa. Isso não quer
dizer que com livre-arbítrio podemos perder a salvação. O livre-arbítrio é obviamente inútil num
salvo pois ele já
tem as duas naturezas (a de Cristo e a pecaminosa), por isso
chamo-o de livre-agência ou servo-arbítrio no cap. 13.
Então, o crente carnal
/ homem carnal (ou seja, depois de ter contato com o evangelho e antes do ato
da salvação) para apostatar da fé (o que significa perder a fé (não salvadora),
e não significa perder a salvação), não precisa de nada além de sua própria
natureza humana pecaminosa não domada. Já Adão no paraíso e Satanás no céu para
cair realmente precisavam do livre-arbítrio, visto que não tinham a natureza
pecaminosa. Espero que esteja um pouco esclarecido. Mesmo assim, para
esclarecer melhor, escrevamos mais.
Explicação do antepenúltimo parágrafo: *não salvo*
fazendo o bem com o livre-arbítrio? Não, claro que não, pelo menos não de si
mesmo, não do jeito convencional. Em primeiro lugar, o que quero dizer é que
Deus, que é infinito, com Sua Graça Infinita, também usa (ou toma) o ímpio
quando Ele quer (não frequentemente), para um propósito soberano. Como dito na
conclusão seção 9.7 Boas Obras, algumas vezes pode-se ver a mão de Deus
e a graça de Deus (o bem) operando até através do homem carnal (não por si
mesmos, mas pela graça, pois só Deus é a fonte do bem verdadeiro). Além disso,
Deus também atende a algumas orações de homens não nascidos de novo, como a de
Cornélio em Atos 10 (E havia em Cesareia um homem por nome Cornélio,
centurião da coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com toda a sua
casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus. Este,
quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo de Deus, que se
dirigia para ele e dizia-lhe: Cornélio. O qual, fixando os olhos nele, e muito
atemorizado, disse: Que é, Senhor? E disse-lhe: As tuas orações e as tuas
esmolas têm subido para memória diante de Deus; Atos 10:1-4), quando são
para o seu bom propósito (Deus é Bom!). Em segundo lugar, na seção 13.6
Considerações Sobre o Livre-Arbítrio, está explicado que o livre-arbítrio é
bem limitado e só opera no não salvo quando Deus “faz tudo”: ninguém pode nem
mesmo fazer o bem de si mesmo (inclusive o regenerado) senão pela graça de Deus,
pois, frisando, apenas Deus é a fonte e canal de todo bem. Como dito no
capítulo 13, a salvação (que é um bem operado pelo Senhor) é uma atuação
pontual de Deus na vida de uma pessoa, e nisso estou falando da regeneração e
da justificação (atos de Deus), e não da conversão que as antecede, também
chamada por mim de processo de conversão (na qual cabe a fé e o livre-arbítrio
– ambos capacitados pela graça). Mais detalhes na seção 13.6 e no capítulo 10,
especialmente 10.3.1 O Processo de Conversão e a Graça Preveniente.
Voltando ao assunto do livre-arbítrio natural do homem, temos esse verso abaixo:
Apocalipse 22.17 E o
Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha;
e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Tal versículo, embora utilizado por alguns para dizer que o
homem natural (antes do contato com o evangelho) possui livre-arbítrio (o que
discordo), fala, entretanto, que o Senhor não rejeita a ninguém que o busca, ou
seja, não rejeita ninguém que busca segui-lo e tomar de graça da água da vida
que vem de Cristo pelo Espírito Santo. Aqueles que desejam seguir o conselho do
Espírito e da esposa (Vem.) receberam esse desejo de seguir a Cristo de Deus, e
não de si mesmos. Aceite ao Senhor como estás, venha como estás, mesmo pecador,
pois não somos nós que nos santificamos, mas o Espírito Santo, o Espírito de
Santificação é o agente responsável por santificar a todos aqueles que aceitam
a Jesus. Não espere até amanhã para aceitar a Jesus, ainda que não consiga se
desfazer do teu pecado, mas o dia aprazível é Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações
(Hebreus 4.7). Cristo te esclarecerá (Efésios
5.14), pois Ele é a luz do mundo (João 8.12), e a Sua Palavra é lâmpada para os
nossos pés e luz para o nosso caminho (Salmo 119.105).
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