Quem lê minhas últimas postagens pode achar que sou bem calvinista, mas não, creio que cada linha teológica tem algo a descartar e algo a acrescentar.
Relembrando o início da doutrina da salvação da Teologia Sistemática Interdenominacional:
Um comportamento correto não é o bastante para alcançar a salvação. Deus nos deu Sua lei, o padrão de Deus é a perfeição (Tg 2.10), e cada um de nós já desobedeceu a sua lei, merecendo condenação (Rm 3.10ss). Todos somos pecadores. A pena por um só pecado é a condenação eterna (Tg 2.10). Deus não nos condena pelo bem que fazemos, mas por algum mal, e todos somos rebeldes. Um juiz não vai ver se somos bons, mas falaria: cometeu tal crime, tem que receber uma sentença. Deus é o supremo e justo juiz, e quem é que poderia, quando encontrar o Senhor, dizer que é bom o suficiente para merecer a vida eterna pelos méritos próprios? Só se fosse realmente perfeito! A pena para os pecados é a morte (Rm 6.23), e todos nós temos a natureza pecaminosa (carne), que recebemos por causa da desobediência de Adão: ele morreu espiritualmente e nós nascemos na morte espiritual: como disse Deus, se comerdes desse fruto morrereis. A carne nos impede de sermos perfeitos. Porém, há um que conseguiu obedecer a lei pelos méritos próprios: Jesus (Mt 5.17), que não nasceu como nós, mas nasceu sem pecado, sem corrupção, sem natureza pecaminosa, sem desejo de pecar, nasceu imaculado, perfeito. Foi concebido pelo Espírito Santo. Deus Pai o enviou por amor por todos nós (Jo 3.16). Ele é o Salvador. Ele sofreu a pena de morte no nosso lugar (1Pe 3.18), ele sofreu a pena de morte que cada um de nós merecia! Ele é o único Caminho que leva a Deus, a única Verdade e a própria vida eterna (Jo 14.6). Jesus é o autor da nossa fé (Hb 12.2). A fé, que vem de Cristo, foi o meio que Deus escolheu para a salvação, porque pelos méritos próprios ninguém consegue cumprir a lei, ninguém pode chegar diante de Deus e falar que é bom (Romanos 3.10-25). Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – é o único bom, e a fonte de todo o bem. Assim, todo aquele que nele crê tem a vida (Jo 3.16). Portanto, ninguém será justificado (declarado justo) diante de Deus pelas obras da lei (boas obras, rituais, sacrifícios, religião), mas pela fé, pois Cristo carregou nosso pecado na cruz, pagando a penalidade dos pecados de todo o mundo, e a sua justiça é imputada aos que creem (em linguagem mais simples, quem crê recebe em si a justiça do Filho de Deus). Deus nos considera e declara justos por causa do Filho, embora ainda sejamos pecadores. Deste modo somos salvos apenas e totalmente por Cristo, por seus méritos (tudo o que ele fez de bom), pela graça de Deus, e nem 1% por algo que possamos fazer (ainda que vivêssemos cinco vidas seguidas tentando conseguir ir para o céu através da prática de boas obras).
Rótulo. Como nos rotularemos nessa época baseado nas nossas doutrinas? Não que eu já tenha apresentado ao leitor a doutrina da salvação, pois está nas 150 próximas páginas. Mas, antecipando a conclusão, não me chamo de calvinista, luterano ou arminiano, não sou pentecostal, renovado, tradicional, nem me chamo de continuísta (embora eu seja) ou cessacionista; nem credobatista (embora eu o seja) ou pedobatista; não me chamo de reformado nem avivado (embora eu seja ambos, avivado e reformado de reforma); não sou luterano, batista, presbiteriano nem metodista. Não sou de Paulo, nem de Apolo, nem de Armínio, nem de Calvino, Wesley, Agostinho ou Lutero. Não sou de Pedro nem de João. Chamo-me de cristão, pois somos de Cristo, carregamos a cruz com Cristo, somos perseguidos e temos o prazer de sofrer um pouco do que Cristo sofreu. Chamo-me de cristão nascido de novo - e é isso que faz a diferença, visto que existem milhões de igrejas, mas aparentemente poucos nascidos de novo dentro delas.
Amém
Lembrando da conclusão:
CONCLUSÃO
Este
livro propõe como conclusão nestes pouco mais de 500 anos de Reforma um
equilíbrio, pois a doutrina contida na Palavra de Deus para nós hoje não parece
se encaixar em moldes teológicos padronizados, como foi proposta. O equilíbrio
proposto busca chegar mais perto da Bíblia. Simplesmente parece que cada linha
de pensamento, com sua respectiva denominação, tem algo a acrescentar e algo a
descartar teologicamente.
Como
disse Spurgeon sobre a ‘Fé’, em Sword and the Trowel, 1872, p. 256 apud Murray
(2006):
Aqueles que só creem no que podem conciliar, necessariamente porão em dúvida grande parte da revelação divina. Sem saber, eles estão seguindo a iniciativa dos racionalistas. Aqueles que aceitam pela fé o que quer que encontram na Bíblia, aceitarão duas coisas, vinte coisas, sim, ou vinte mil coisas, apesar de não poderem construir uma teoria que harmonize todas elas.
Se
os cristãos de algumas linhas teológicas pegassem os pontos fortes de cristãos
de outras linhas teológicas, teríamos um cristianismo mais robusto, pois cada
linha de pensamento com sua respectiva denominação tem algo a acrescentar e
algo a descartar. Para um tradicional, o equilíbrio proposto é dar ouvidos à
voz do Espírito Santo, inclusive buscando seus dons, pois eles estão operando,
quer queiram ou não. Para um pentecostal e carismático, o equilíbrio proposto é
dar mais valor à salvação, e maior imersão à doutrina da justificação pela fé,
e menos aos dons espirituais e experiências. Para um arminiano contemporâneo, o
equilíbrio proposto é voltar mais para Armínio (arminianismo clássico), que era
reformado e que acreditava que a fé era um dom, e voltar à Palavra, que dá a
glória somente a Deus e nenhuma voz à capacidade humana. Para um wesleyano,
buscar a perfeição em santidade tão amada por Wesley. Para um pentecostal e
neopentecostal, ser mais reformado. Para um calvinista, o equilíbrio proposto é
considerar mais elevado o caráter de Deus em Amor a todas as pessoas conforme
João 3:16, explicado pelos calvinistas Peterson e Williams (2004), que citaram
D.A. Carson. Para um reformado, ser mais avivado, com a alegria e fervor de um
pentecostal. Para um católico, voltar ao primeiro amor, voltar a Cristo, ou
seja, à Igreja Primitiva, bíblica, pois muitas heresias foram colocadas através
dos séculos – e todos sabem disso. Para um protestante, ter mais unidade entre
Igrejas e Credos Ortodoxos, como sentindo o próprio Reino de Deus na Terra.
Porém,
ainda que citei alguns grupos de cristãos, acredito ser importante não nos
rotularmos teologicamente (tal como está escrito: Sou de Apolo, sou de Cefas),
sou da linha teológica tal, porque a Palavra de Deus é que é inspirada e
inerrante, e, ainda que o conhecimento teológico escrito pelos teólogos fiéis
podem ter claramente um teor de iluminação do Espírito, a produção teológica
não é inspirada (exceto naquilo em que concorda com tudo o que a Bíblia diz), e
muito menos inerrante. Então, devemos nos rotular, nesta época de apostasia e
liberalidade generalizada de líderes das igrejas, como “cristãos nascidos de
novo”, pois somos de Cristo.
Muitos
se dizem cristãos, mas pouquíssimos são nascidos de novo. O Senhor justifica
aqueles que têm a sua justiça e mérito
em Cristo, recebida pela fé, e não em algo que possamos fazer (obra). A glória
é do Senhor, Ele é o Salvador, e Ele não irá salvar a ninguém que possa achar
que tenha que fazer alguma obra para tal além de confiar inteiramente no Senhor
Jesus (fé), ou seja, como Spurgeon foi salvo pelo Senhor numa pregação de
Isaías 45.22: Olhai para mim, e
sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há
outro; ou como John Wesley foi salvo por Cristo no momento em que se lia o
prefácio da carta de Paulo aos Romanos comentada por Lutero, uma vez que se sabe
que lhe foi revelado que o justo viverá pela fé somente (Rm 1.17), nós também somos salvos somente se for do jeito
do Senhor, e não do nosso. Se nós simplesmente pensamos que podemos contribuir
em alguma forma para a salvação, não seremos salvos. Somos salvos unicamente
por Cristo, ao confiar nele inteiramente, nos esvaziando de todas as coisas
(renúncia) para Ele somente, vendendo tudo para adquirir o tesouro escondido
(Mateus 13.44). Muitos permanecem presos por heresias de perdição, e Satanás
tem engodado a muitos pela justiça própria e pela justiça pelas obras. Tem
engodado a muitos pelo amor ao dinheiro também. Que a Igreja do Senhor acorde
nessa tempestade, que caia a escama dos seus olhos, e que nenhuma ovelha seja
perdida, mas que todas elas sejam convertidas e salvas, como de fato serão.
Ninguém será salvo se não for somente pela graça de Deus, tendo somente a fé
como meio de justificação, e somente pelos méritos de Cristo.
Este
livro é uma tentativa de elaborar uma confissão de fé protestante ortodoxa (que
virou uma teologia sistemática), que teve e tem como objetivo defender os
grandes pilares da fé cristã, colocando Cristo e a Sua Palavra acima de tudo,
com uma breve seção de auxílio teológico geral sobre interpretação bíblica, mas
que também buscou refutar, pela defesa da verdade, algumas heresias que afirmam
loucamente: que a Bíblia está adulterada; da negação que a Bíblia é a Palavra
de Deus; da teologia da prosperidade; do determinismo fora da Palavra e
confissão positiva; do hiperpentecostalismo; do extremo fundamentalismo; dos
judaizantes; dos sabatistas; da perda da verdadeira salvação; da capacidade
humana que alegam existir após a Queda e da contribuição ao homem à salvação. Não
preciso refutar a heresia de quebra de maldições pois todo aquele que não está
em Cristo está sob a maldição da lei conforme a Escritura (e precisa nascer de
novo) e, do nosso lado, não há nenhuma condenação para aquele que está em
Cristo Jesus, na nova aliança, inclusive as maldições da antiga aliança de
Moisés em Deuteronômio (“escolhe a bênção ou a maldição...”) não estão mais
valendo hoje para quem está em Cristo, pois Ele já se fez maldição por nós,
aleluia! Também neste livro incluí uma refutação, segundo a Bíblia, para com a
evolução de Darwin, ideologia de gênero, relativismo, aborto, reencarnação,
justiça própria com ênfase em boas obras e caridade, além do ecumenismo, já que
Cristo é o único Caminho e a única verdade absoluta.
Para
finalizar, creio que atualmente deveria ser dada uma ênfase para que as
autoridades pastorais voltassem a pastorear as ovelhas, visitando-as nas suas
casas, perguntando-lhes se estão bem, não sendo apenas pregadores de mensagens
evangelísticas ou até mesmo superficiais nos domingos à noite. Os pastores
devem também disciplinar os membros, segundo a disciplina bíblica, condenando o
pecado, sem demasiado receio de processos jurídicos, para que haja também
conversão, e para que a igreja seja uma congregação dos justos, na qual os
pecadores não subsistam ao poder da mensagem do evangelho pregada pelo poder do
Espírito (Salmo 1.5), e não permaneçam acomodados praticando o que quiserem,
pois não se ouve falar mais frequentemente de doutrina como a dos apóstolos
(Atos 2.42), e admoestação como a de Paulo em Romanos capítulo 1º.
Nenhum comentário:
Postar um comentário