quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Complemento da Teologia Sistemática Interdenominacional 27/12/24 19h20

Graça e paz a todos!

5 min leitura

Roberto Fiedler Rossi


10.2.1.2 A Antiga e a Nova Aliança, os Sacrifícios de Animais e o de Cristo com foco na Expiação e Justificação

Essa seção é uma complementação às seções “5.3 A Antiga e a Nova Aliança” na pneumatologia e a seção mais adiante “10.4.3 Deus ainda se ira com o salvo se ele pecar? E o pecado separa o salvo de Deus?” na soteriologia (Efeitos da Salvação Divina na Nova Aliança), além, claro, das duas seções anteriores.

A antiga aliança era adequada à época antiga, pois tudo o que Deus faz é bom. Envelheceu a primeira, deixou de ser adequada, o Pai providenciou uma melhor aliança ou testamento cf. Hebreus.

A antiga aliança, isto é, o pacto de Deus com seu povo físico eleito, que é descendente de Adão por Sete, Noé e Abraão, Isaque e Jacó, passando por Moisés e Adão, Davi e Salomão, Esdras e Neemias, e chegando aos israelitas ou hebreus contemporâneos a Cristo, englobava leis específicas e sacrifícios de animais por muitos tipos de pecados, inclusive por ignorância, tanto individual como a toda a nação de Israel.

A salvação ou justificação pessoal antes de Cristo era pela fé no Messias prometido e, claro, em Deus.

A regeneração, o nascer de novo, como também diz a Bíblia de Estudo Pentecostal (1995), não era plena. O Espírito Santo só foi dado como morada permanente após Jesus ter sido glorificado como diz João em seu evangelho.

A expiação, isto é, morte substitutiva por alguém, a saber, de animais no AT, não era plena. Isso engloba também reconciliação e propiciação não plenos. O sacrifício de animais cobria o pecado, mas o pecado dos santos antigos foi devidamente perdoado na morte de Cristo, que tirou também o pecado do passado, presente e futuro.

O que ocorre é que a antiga aliança, do Sinai, era condicional cf. final de Deuteronômio: escolhe coisas boas e será abençoado, escolha coisas erradas, se afastando de Deus, e será gravemente amaldiçoado.

A justificação, ato de Deus declarar justo o culpado arrependido e que confia sua vida no Senhor, no AT (antigo testamento) era plena e perfeita, como na nova aliança. Mas, antigamente, o justificado tinha que seguir a lei, expiar os seus pecados através do sacrifício de animais, que prenunciavam o sacrifício de Cristo, e eles foram para o Céu por serem justificados. Isso tudo embora os pecados cometidos pelo AT só foram realmente perdoados por Jesus como diz Hebreus. Paulo, em Romanos 8.29 em diante, cita a perspectiva divina da salvação do Pai, desde a eternidade: “aos que dantes conheceu, os predestinou; aos que predestinou à glória, chamou em vida segundo o propósito; aos que chamou, justificou; aos que justificou a estes também glorificou.” Vede que Paulo não fala aí da regeneração.

Os pecados no Antigo Testamento não eram definitivamente perdoados, mas "cobertos" (utilizaremos essa expressão, usada por Davi em Salmo 32:1), pois Hebreus 9:15, que fala da morte de Cristo [sabemos que foi no ano 33 d.C.], diz: “E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento...” Esse texto mostra que apenas após o sacrifício consumado de Cristo na história humana é que os pecados do passado cometidos pelos santos do AT foram plenamente expiados/perdoados, assim como os nossos do passado, do presente e do futuro. Quando o AT fala que o sacrifício de algum animal expia o pecado e este é perdoado, isso deve ser visto pela revelação progressiva de Deus, que esclarece isso e revela seu plano divino e intenção completos em Hebreus 10.4 (“Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados.”), que diz que só o sacrifício de Cristo definitivamente apaga/expia o pecado! Obviamente os santos do AT após a morte estavam no seio de Abraão (Lc 16.22a), no Paraíso (já que eram declarados justos/justificados/salvos), e não ficavam inconscientes após a morte.

Voltando um pouco, como a expiação, reconciliação com Deus e propiciação (aplacar a ira divina pelos pecados) não eram plenas no AT, e como era uma aliança inferior à de Cristo (Hebreus fala que a nova é superior), pode-se perceber facilmente o quanto Deus se irava no AT até a salvos quando eles transgrediam ou escolhiam fazer o mal, como o próprio Davi, homem segundo o coração de Deus. A plena paz com Deus que vem da plena reconciliação com Deus por Cristo, visto que Paulo recebeu na nova aliança o ministério da reconciliação, não havia no AT.

Ou seja, os sacrifícios dos animais cobriam o pecado e a pessoa gozava sim de certa paz com Deus, mas, quando outros graves pecados eram cometidos, de acordo com o mandamento atribuído a cada um, a pessoa estava novamente na ira se não fosse feito outro sacrifício santo e lícito, e ai dela. Tanto que o "profeta novo", que era um homem de Deus, encontrado em 1Reis 13, que profetizou contra o ímpio rei Jeroboão, e até profetizou que viria depois de muitos anos o reformador e justo rei Josias, profeta com o qual o senhor operou maravilhas, pelo engano, prova e astúcia de um "profeta velho" que encontrou no caminho, foi morto por um leão. Que é isso senão outra época, outro "mundo", outra aliança, em desobediência e ira divina, estando antes em temporária paz, temporária santidade?

A justificação, isto é, o ato da salvação divina, mesmo no AT, era plena e perfeita. Portanto, Davi, Salomão, esse profeta novo, e tantos quantos foram justificados pela fé como o patriarca Abraão no AT, assim como diz Paulo em Romanos falando de Abraão, e assim como diz o escritor de Hebreus em Hebreus 11, venceram pela fé e foram para o Céu.

O novo testamento dá a entender claramente que a santidade na nova aliança, em que cada salvo é sacerdote, é superior à santidade do AT, em que apenas a tribo de Levi era mais santificada - ou mais cobrada para isso. E o povo no passado era, muitas vezes, rebelde contra o Senhor mesmo. No novo, não se vê essa rebeldia pessoal e generalizada, essa facilidade de se tirar uma vida, esse ódio pelos incircuncisos como nos Salmos, pois conhecemos muito mais a Deus e seu caráter, seu Amor por Cristo e pelo Espírito. Corrobora com isso também Atos 15.28-29, em que a santidade (inclusive na parte sexual) dos salvos cristãos era superior aos dos judeus do passado distante.

Versículo Hebreus 9:23

Assim, as representações das coisas no céu tiveram de ser purificadas com o sangue de animais. As verdadeiras coisas celestiais, porém, tiveram de ser purificadas com sacrifícios muitos superiores. (NVT, 2016, Mundo Cristão).

Comentário de A. R. Fausset (1866, Hb. 9.23): “O pecado do homem introduziu um elemento de desordem nas relações de Deus e Seus santos anjos em relação ao homem. A purificação remove este elemento de desordem e muda a ira de Deus contra o homem no céu (projetado para ser o lugar de Deus revelando Sua graça aos homens e anjos) em um sorriso de reconciliação [pelo Sangue de Jesus, colchetes meus]. Compare “paz no céu” (Lucas 19.38). “O céu incriado de Deus, embora em si uma luz imperturbável, ainda precisava de uma purificação [reconciliação Deus-homem em Cristo], na medida em que a luz do amor foi obscurecida pelo fogo da ira contra o homem pecador” [Delitzsch in Alford]. Contraste Apocalipse 12:7-10. A expiação de Cristo teve o efeito também de expulsar Satanás do céu (Lucas 10.18; Jo 12.31; compare com Hb 2.14). O corpo de Cristo, o verdadeiro tabernáculo (ver Hebreus 8.2, Hb 9.11), como tendo o nosso pecado imputado (2Co 5.21), foi consagrado (Jo 17.17, 17.19) e purificado pelo derramamento de Seu sangue para ser o ponto de encontro entre Deus e o homem.”

Complementando: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” (Romanos 5:18 ACF, 2011, SBTB)

Baseado na citação e versículos acima, o pecado de Adão fez uma ruptura total na relação Deus-homem, parcialmente "amenizada" (não conheço palavra melhor) durante a antiga aliança, pois não estavam reconciliados plenamente no AT, visto que o ato de justiça de Cristo que trouxe a plenitude da graça e que purificou as coisas celestiais não havia ainda sido feito pelo Cordeiro de Deus.

É necessário um esclarecimento. Obviamente a antiga aliança, embora imperfeita e com sacrifícios imperfeitos conforme Hebreus, também era fruto da graça de Deus Pai, Filho e Espírito Santo conforme Apêndice C - Aliancismo vs Dispensacionalismo [...], e é claro que a graça preveniente opera a todos desde o contato com Deus para com Adão e Eva após a queda, chamando, no Antigo Testamento, as pessoas à fé em Deus e ao Messias prometido cf. seção "10.3.2 Adão Teve Livre-Arbítrio Após a Queda?", cujo povo mediador para isso no AT era a nação de Israel, mas a plenitude da graça, a todos e a cada uma das pessoas da face da terra, sem povo mediador, mas com um Mediador divino (Jesus), para desfazer os efeitos da queda de Adão e reconciliar para sempre o homem e Deus, só veio após a obra salvadora de Cristo na cruz do Calvário, na nova aliança.

Agora, você, cristão da nova aliança, consegue enxergar melhor e um pouquinho mais da perfeita, pura, celeste, única, e cabal expiação de Cristo por você? Ele tomou para si a ira que merecíamos (propiciação), não há nada que você pode fazer, se for salvo, pois é cativo por Cristo, para sair da graça e do Seu amor, ou seja, não está mais na ira, você tem plena paz com Deus (Romanos 5.1)! Jesus é o teu pleno sacrifício! Jesus te reconciliou com Deus para sempre, de eternidade em eternidade você é amigo de Deus! Jesus é tua redenção, Ele te comprou do mercado de escravos, pagou o preço a Deus pela satisfação da Lei mosaica que você deveria cumprir (o salário do pecado é a morte), isto é, Sua morte, e você é livre, para sempre, do pecado! Não é mais escravo! Não há mais maldição da lei sobre ti! Não só és servo como é Filho! Glória a Jesus, que linda salvação, que Amor!

Que você mergulhe no Amor, no conhecimento que dá virtude e alegria, na profundidade, largura e altura do Amor de Deus! Realmente Jesus te amou na cruz! Realmente o Pai te amou ao enviar Jesus para te dar todos esses presentes divinos! Realmente o Espírito Santo testifica para mim e para você, neste momento, das maravilhosas facetas da vida, morte e ressurreição de Cristo para o louvor da glória de Deus!

Amém!

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