Graça e paz!
Estou compartilhando um resumo da doutrina da salvação adotada...
1) Algumas linhas arminianas reconheço serem semipelagianas, especialmente as contemporâneas, visto que o homem nasce com habilidade de crer ou de não resistir a graça que não perdeu na queda de Adão, pelo menos na minha visão. A visão que sigo antes da justificação e depois disso a perseverança dos santos, é (como a calvinista nisso) que Deus regenera/restaura o pecador irresistivelmente pela graça preveniente. Aos calvinistas, a graça preveniente é apenas aos eleitos, e a regeneração irresistível é o novo nascimento. Na minha visão e no arminianismo, enfim, na linha mais saudável dele na minha opinião, existem 2 regenerações/ renovações: a graça preveniente é destinada a todos, e segundo Armínio, pelo contato com a Palavra somos restaurados irresistivelmente (irresistivelmente segundo Wesley) com a capacidade de não resistir a Deus (deve ter ficado claro que não nascemos com isso senão não há Soli Deo Gloria). Àquele que não resiste a Deus (depois do convite inicial feito pelo Espírito), Deus faz tudo: lhes dá / leva ao arrependimento e fé genuínos, dons/dádivas de Deus onde há uma sinergia Deus-homem ... pois o querer e efetuar é Dele.
A justificação, regeneração, adoção após a conversão é monergista condicional - Deus sozinho age, mas há uma condição. Adotei isso do arminiano Forlines (de uma obra de 2001).
Aos calvinistas, o regenerado responde com fé e é justificado. Na minha visão, ao que não resiste (habilidade recebida com o contato da Palavra), que renuncia tudo o que Jesus pediu, Deus faz tudo de uma vez, justifica/regenera/adota, e o faz perseverar.
Creio na depravação total antes do contato com a Palavra (culpa e corrupção). Depois, após a regeneração/renovação parcial pelos primeiros contatos com a Palavra, o ímpio ainda morto no pecado é parcialmente iluminado, pode receber dons como no tempo apostólico antes da salvação, fé de servo não salvadora etc.
E nesse estágio dá para apostatar como falam vários trechos: perder a graça, fé de servo segundo John Wesley, que é não salvadora e perder o Espírito, quando não se é morada permanente ainda, mas sim, o Espírito visita até os que estão no meio de um longo processo de conversão e renúncia, que pode levar anos como o de John Bunyan.
Não se perde justificação nem salvação, adoção ou eleição... não é bíblico...
Embasamento: Deus encerrou a todos na desobediência para com todos exercer [verdadeira] misericórdia... Rm 11
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida (Romanos 5:18 acf)
Digo, são todos justificados? Não, heresia, universalismo. Portanto, podem vir a ser e a graça alcança a todos. Mas o homem mesmo com o Espírito convidando prefere muitas vezes o seu pecado...
João: os homens não quiseram ir à luz pois suas obras eram/são más...
A graça pode ser resistida, o amor é voluntário:
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! (Mateus 23:37 acf)
Apenas os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo (substitutivo - leva sempre à justificação) e Jesus, na cruz, retirou toda a culpa adâmica dos pecados de toda humanidade que constitui os impedimentos legais da lei que impediria alguém de crer (aspecto não substitutivo) - aplicado pela graça preveniente a todos ao contato com a Palavra... a graça preveniente vem desse último aspecto da expiação: a graça vem da Cruz de Cristo e da bondade do Pai.
A culpa vem a todos, e a graça preveniente vem a todos pela Palavra, meio ordinário, que retira a culpa adâmica.
A liberdade que creio é bem mais limitada do que no arminianismo, mas não é determinista... afinal obedecemos a Deus naturalmente - não podemos ir com nossa liberdade contra Suas leis criadas, física, química, biologia, semeadura, morais etc, nem tudo Deus decreta forçadamente (Ele não precisa), mas sim, Ele é Soberano em tudo e age nos mínimos detalhes sem forçar pensamentos, movimentos e intenções do coração como disse Peterson e Williams em Por que não sou arminiano? / Why I am not an Arminian. 2004.
Deus não força um salvo a pecar com compatibilismo, é contra Sua natureza (os mandamentos refletem com efeito o caráter de Deus). Todavia, Deus pode controlar qualquer ímpio não arrependido como quiser para um bom propósito, como Judas, Pilatos ou Farão... enviou um espírito de mentira aos já maus falsos profetas em Reis etc.
O salvo não faz bem de si mesmo, é Deus quem o usa, é vaso de Deus, todo o bem vem de Deus e todo o mal dos homens e demônios.
Deus quer que todos sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade. (Escritura)
Romanos 9: escolheu Jacó: tipo daqueles da fé: *escolheu os que são da fé e não os que se justificam pelas obras da lei como Esaú...
Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço; (Romanos 9:30-32 acf)
Conclusão do capítulo de Romanos 9 acima...
Não gosto muito de usar a palavra livre-arbítrio (uso pouco), prefiro servo-arbítrio kkk, livre-agência etc. Quando uso livre-arbítrio, faço com cuidado.
Ilustração do chamado de Deus na visão adotada:
"Resumindo o chamado de Deus na visão arminiana clássica: Os arminianos clássicos veem o pecador como já preso no mais profundo canto de um campo terrorista. Amarrado, amordaçado, vendado e drogado, o prisioneiro está fraco e tendo visões. Os calvinistas e os arminianos clássicos sabem que o pregador no portão não pode alcançar o prisioneiro através das camadas do enclausuramento e distorção sensorial. O prisioneiro não pode sequer começar a pedir ajuda ou planejar uma fuga. Na verdade, o prisioneiro se sente em casa na abafada imundície da cela; o prisioneiro se identificou com seus capturadores e tentará lutar contra qualquer tentativa de resgate. Somente uma invasão divina será bem-sucedida. O arminiano clássico acredita que Deus invade a prisão e se aproxima da cabeceira da vítima. Deus injeta um soro que começa a limpar a mente do prisioneiro das ilusões e que reprime suas reações hostis. Deus remove a mordaça da boca do prisioneiro e liga uma lanterna e mostra a sala completamente escura. O prisioneiro continua mudo enquanto a voz do Resgatador sussurra: “Sabe onde você está? Deixa eu lhe dizer! Sabe quem você é? Deixa eu lhe contar!” E ao passo em que a persuasão se inicia, a verdade divina começa a nascer no coração e mente do prisioneiro; o Salvador segura um pequeno espelho para mostrar ao prisioneiro seus olhos fundos e seu corpo débil. “Está vendo o que fizeram com você e como você se entregou a eles?” Mesmo com a luz fraca, os olhos enfraquecidos do prisioneiro estão começando a focalizar. O Resgatador continua: “Sabe quem Eu sou, e que quero você para Mim?” Talvez o prisioneiro não dê nenhum passo à frente, mas também não se vira. As perguntas continuam: “Posso lhe mostrar algumas fotos suas de quem você era, e dos maravilhosos planos que tenho para você para o futuro?” A batida do coração do prisioneiro aumenta enquanto o Salvador prosseguia: “Sei que parte de você suspeita que Eu vim aqui para lhe machucar. Mas permita-Me lhe mostrar algo – Minhas mãos, elas estão um pouco sujas de sangue. Precisei passar por meio de um horrível emaranhado de cerca de arame farpado para chegar até você”. Agora aqui nesse recém-criado espaço sagrado, nesse momento de nova possibilidade, o Salvador sussurra: “Eu quero lhe tirar daqui agora mesmo! Dê-Me seu coração! Confie em mim"! Esse cenário, nós acreditamos, captura a riqueza da mensagem bíblica: a glória da Criação original, a devastação do pecado, e busca amorosa de Deus por pecadores incapazes, e a natureza de amor com o consentimento livre das pessoas. "Walls e Dongell. Por que não sou Calvinista, editora reflexão, 2014. Em inglês, é Why I am not a Calvinist? 2004.
Comentário final dos irmãos Peterson e Williams defendendo um calvinismo equilibrado em Why I am not an arminian (Por que não sou arminiano?), 2004.
"As Escrituras nos levam à afirmação de que a soberania divina – Deus sempre prevalece – não é incompatível com a verdadeira liberdade humana. Deus não fica ocioso por um mundo governado pela liberdade humana, e nem é o homem uma marionete, uma criiatura da qual todos os pensamentos, intenções e movimentos foram programados por forças externas a si mesma. Richard Muller afirma a posição calvinista assim (Muller, “Arminius’s Gambit and the Reformed Response”, p. 270. In: Schreiner, Tomas; Ware, Bruce. The Grace of God, the Bondage of the Will: Historical and Theological Perspectives on Calvinism. Vol. 2. 1995. 27 p.): "A divina ordenação de todas as coisas [não incluindo aqui todos os pensamentos, intenções e movimentos, colchetes meus] não é apenas consistente com a liberdadehumana; ela torna a liberdade humana possível". É Deus quem estabeleceu o próprio espaço no qual a liberdade humana pode existir. E mesmo quando fazemos escolhas significativas e responsáveis no mundo de Deus, é "nele que vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28). Somos criaturas de Deus e, como tal, sempre somos ligados por sua pessoa, sua lei e, sim, seu decreto. Longe de denunciar o livre-arbítrio das criaturas, essa perspectiva demanda que afirmemos tanto um Deus soberano como a liberdade humana de escolha. Pois apenas um absolutamente soberano Deus poderia criar um ser humano livre." Peterson and Williams (2004).
Amém